Por Sílvia Mendonça Carneiro/Comunica FEF

 

Em 2022, a Faculdade de Educação Física (FEF) da Universidade de Brasília (UnB) completa 25 anos de criação, mais precisamente na data de hoje, 21 de janeiro. A trajetória da Educação Física na UnB, porém, começou bem antes do que muitos imaginam. Já na década de 1960, a universidade contava com um Serviço de Recreação e Desportos, vinculado ao Decanato de Assuntos Comunitários (DAC). Em 1971, foi inaugurado o Centro Olímpico e, logo em seguida, em 1972, implantado o curso de graduação. Esse crescimento exigiu, em 1974, a criação do Departamento de Educação Física, à época vinculado à Faculdade de Ciências da Saúde (FS). Finalmente, em 1997, foi criada a FEF. A seguir, conversamos com algumas das pessoas que ajudaram a construir, preservar e dar continuidade à história da nossa faculdade.

 

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FEF/UnB na década de 1970. Foto: Acervo pessoal do professor pioneiro Osmar Riehl

 

O professor emérito da FEF, Dr. Iran Junqueira, é parte da história viva da nossa faculdade e consegue dimensionar os ganhos desses 25 anos. Além de ter sido o primeiro diretor da FEF, Iran também atuou como chefe do Departamento de EdF nos anos em que era vinculado à FS. Ele recorda que só para convencer a direção da FS a criar uma nova unidade levou um ano e três meses. “Foi uma tramitação lenta, com uma série de obstáculos, mas os ganhos com a saída da FS foram fundamentais. Não só no sentido acadêmico, porque ganhamos também muito mais liberdade e autonomia orçamentária”, conta. Com a criação da FEF, a unidade também passou a ter representantes da Educação Física nos Conselhos Superiores da UnB, o que contribuiu para consolidar a relevância da área de conhecimento junto aos outros setores da universidade. “Na época, nós tínhamos três laboratórios simplórios, hoje temos 20. Um ganho importante para posicionar a FEF como uma unidade acadêmica fundamental na nossa universidade”, afirma.

 

Atualmente, a FEF conta com um quadro efetivo de 27 técnico-administrativos e 47 docentes de dedicação exclusiva. “São profissionais altamente qualificados que passaram em concurso público, estão totalmente articulados, integrados e com competências para trabalhar em seus setores”, afirma Iran ao elogiar a política da universidade que possibilitou criar na FEF um quadro permanente, especialmente, de servidores técnico-administrativos. “Foi um salto de qualidade e, evidentemente, conseguimos avançar bastante no ensino, pesquisa e extensão”, avalia. Neste último segmento, inclusive, Iran destaca a atuação de referência da FEF. “Somos uma das unidades acadêmicas da UnB que mais promove extensão, principalmente dentro da ideia de projeto social e de ação contínua”, observa. Na sua visão, um dos desafios à frente é ampliar ainda mais a extensão, extrapolando o campus Darcy Riberiro para alcançar os polos de extensão que a universidade implantou em outras regiões administrativas, como Recanto das Emas e Paranoá.

 

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FEF/UnB na década de 1970. Foto: Acervo pessoal do professor pioneiro Osmar Riehl

 

A professora e coordenadora do Centro de Memória da FEF, Drª Ingrid Wiggers, é uma das responsáveis por resgatar e preservar a história da Educação Física na UnB. “Desde que começamos a desenvolver o projeto, em 2018, a minha visão sobre a trajetória da faculdade vem se modificando bastante. Já atuo como professora há 15 anos na FEF e, no dia a dia, entre uma aula e outra, as atividades de orientação e diversos projetos que já tive oportunidade de coordenar e colaborar, não me dava conta de que tudo isso é possível graças a muito trabalho e grandes conquistas acadêmicas efetivadas ao longo do tempo, por meio do empenho de gerações anteriores de professores, servidores técnico-administrativos e estudantes”, pondera.

 

De acordo com Ingrid, o contato com os pioneiros da faculdade, realizado por intermédio de entrevistas, levou-a a perceber a forte relação afetiva, de respeito e admiração que é expressa nas memórias de docentes e alunos. O Centro de Memória Maria Helena Siqueira – nomeado em homenagem à professora que atuou por 17 anos na FEF e foi a primeira mulher a ocupar a chefia do antigo Departamento de EdF – foi criado em setembro de 2021 e funciona como um espaço institucional de reflexão, preservação e divulgação da memória e da história da Educação Física na UnB. “A criação do CEMEFEF foi um momento significativo para toda a nossa comunidade. A preservação da nossa história é um sinal de crescimento da FEF, dignificando ainda mais o nosso trabalho”, declara.

 

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FEF/UnB na década de 1970. Foto: Acervo pessoal do professor pioneiro Osmar Riehl

 

História em movimento

Para o professor e atual diretor da FEF, Dr. Fernando Mascarenhas, um importante ponto de virada para a Educação Física na UnB se deu juntamente com a redemocratização do país, à luz da nova Constituição Federal de 1988 – que conferiu autonomia às universidades –, e também com a instituição da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996. “De um lado, a disciplina de Prática Desportiva deixa de ser obrigatória no ensino superior, incluso na UnB. De outro, o próprio campo da Educação Física brasileira, desde fins dos anos 1980, passa a dialogar com o campo da Educação, estabelecendo um amplo debate pedagógico acerca do ensino e do próprio papel da Educação Física, o que ficou conhecido como Movimento Renovador da Educação Física”, lembra. 

 

Uma das prioridades do planejamento estratégico da recém-criada FEF passa a ser a criação de seu próprio Programa de Pós-Graduação. “Uma conquista que veio em 2006, com menos de dez anos desde sua criação, um feito realmente extraordinário”, elogia Fernando. Também no mesmo ano, a FEF é pioneira em criar o primeiro curso de Licenciatura em Educação Física na modalidade de Ensino a Distância (EaD), fruto de uma parceria entre a UnB e a Universidade Aberta do Brasil (UAB). Além disso, outro grande passo se aproximava. “Me arrisco a dizer que foi na última década que a FEF experimentou seu período de maior crescimento, com a adesão ao Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI). Praticamente triplicamos o número de alunos e duplicamos o número de servidores”, conta o diretor.

 

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FEF/UnB na década de 1970. Foto: Acervo pessoal do professor pioneiro Osmar Riehl

 

Hoje, a FEF conta com aproximadamente 900 alunos de graduação, 200 de pós-graduação, 100 da Licenciatura EaD, 400 de Prática Desportiva, público de 500 pessoas em projetos de extensão de ação contínua, além dos usuários do CO envolvidos com as atividades comunitárias organizadas pelo DAC. “Isso sem falar da diversidade das investigações científicas desenvolvidas por nossos laboratórios de pesquisa, que contemplam as diferentes subáreas da Educação Física: dos estudos do movimento humano, desempenho e saúde; e dos estudos socioculturais, políticos, pedagógicos e psicológicos da Educação Física”, destaca Fernando.

 

Atualmente, além de Mestrado e Doutorado em Educação Física, este último criado em 2014, são ofertados, também pela FEF, cursos de especialização regulares e o curso de Mestrado Profissional em Educação Física Escolar (ProEF), implementado em 2018. “Neste 21 de janeiro de 2022, temos muito a comemorar, pois nesses últimos 25 anos, como Unidade Acadêmica da UnB, a FEF cresceu com inclusão social e excelência acadêmica, comprometida com a formação de jovens professores e profissionais que vem fazendo diferença no Distrito Federal e no país”, avalia o diretor com orgulho.

 

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FEF/UnB na década de 1970. Foto: Acervo pessoal do professor pioneiro Osmar Riehl

 

O que está por vir

Como adianta o Prof. Iran Junqueira, também presidente da Comissão de Reforma Curricular da FEF, a faculdade passará em breve por mudanças significativas em seu projeto pedagógico. “Atualmente, temos dois cursos presenciais, mas o novo currículo será por Área Básica de Ingresso (ABI)”, conta. Nesta modalidade, o estudante da Educação Física só definirá se seguirá no Bacharelado ou na Licenciatura após metade do curso concluída. Ao ingressarem, todos estudam um núcleo comum de disciplinas e, após dois anos, definem qual habilitação seguir. “Isso vai mudar a própria cultura da casa, porque muitas disciplinas serão retiradas, em termos de nomes, mas seus conteúdos serão contemplados em disciplinas mais macro, interdisciplinares. Serão criadas novas também”, compartilha. A expectativa do docente é que, ainda em 2022, a comissão consiga aprovar a proposta em todos os âmbitos da UnB, incluindo seus Conselhos Superiores. “Quem sabe para que a gente possa implantar esse novo currículo já no primeiro ou segundo semestre de 2023”, projeta Iran.

 

A modernização do Centro Olímpico, que trará maior qualidade de estrutura e suporte para as ações de extensão e atividades comunitárias, também apresenta desafios para a FEF e o CO. A reforma do Complexo de Atletismo, cuja inauguração colocará à disposição da faculdade um equipamento moderno e de excelência, provavelmente demandará novas parcerias para otimizar sua gestão. “O melhor caminho, penso, é seguir o modelo utilizado pelo Centro de Excelência em Saltos Ornamentais, cuja parceria com a Secretaria Especial do Esporte, vinculada ao Ministério da Cidadania, com a Confederação Brasileira de Saltos Ornamentais (CBSO) e o Instituto Pro Brasil (IPB), vem promovendo excelentes resultados em termos esportivos para a modalidade”, argumenta Fernando. Além disso, nota-se também o impacto na ampliação de espaços formativos para os alunos, integrando a extensão com o ensino e a pesquisa, e na melhor manutenção do Parque Aquático do CO.

 

*Para conferir ainda mais detalhes sobre a história da Educação Física na UnB, visite o site do CEMEFEF/UnB.